Em muitas cantigas de amigo, encontramos uma estrutura rítmica e versificatória que pode ser criada de acordo com um modelo simples. Em a História da Literatura Portuguesa, este modelo é definido do seguinte modo: o ritmo é conferido por um par de estrofes, “ou, mais precisamente, o par de dísticos, dentro do qual ambos os dísticos querem dizer o mesmo, diferindo só, ou quase só, nas palavras da rima, que são de vogal tônica a num dos dísticos de cada par, e i ou ê no outro; o último verso de cada estrofe é o primeiro verso da estrofe correspondente no par seguinte. Cada estrofe vem seguida de refrão” (p. 57). A este esquema, deu-se o nome de paralelismo.
Abaixo, usaremos uma cantiga e aplicaremos esta definição para visualizarmos como ocorre esta estrutura. Em 1º lugar, apresentaremos a cantiga tal qual ela é, e depois, com as indicações de sua forma.
Autoria: Bernal de Bonaval.
– Ai, fremosinha, se ben ajades,
longi de vila quen asperades?
– Vin atender meu amigo.
– Ai fremosinha, se gradoedes,
longi da vila quen atendedes?
– Vin atender meu amigo.
– Longi de vila quen asperades?
– Direi-vo-l’eu, pois me preguntades:
Vin atender meu amigo.
– Longi de vila quen atendedes?
– Direi-vo-l’eu, poi-lo non sabedes:
Vin atender meu amigo.
*
estrofe 1
– Ai, fremosinha,/ se ben ajades, verso A
longi de vila / quen asperades? verso B
– Vin atender meu amigo. refrão
estrofe 2
– Ai fremosinha, / se gradoedes, verso A’ (variante de A)
longi da vila / quen atendedes? verso B’ (variante de B)
– Vin atender meu amigo. refrão
estrofe 3
– Longi de vila / quen asperades? verso B
– Direi-vo-l’eu, / pois me preguntades: verso C
Vin atender meu amigo. refrão
estrofe 4
– Longi de vila / quen atendedes? verso B’
– Direi-vo-l’eu, / poi-lo non sabedes: verso C’
Vin atender meu amigo. refrão