Hoje falaremos das características das cantigas de amigo. Em 1º lugar, o que mais se conhece sobre esta poesia é que seu eu lírico é feminino e o poeta-compositor das cantigas é masculino, afinal sua produção ocorre na Idade Média, período em que as mulheres estavam excluídas da vida intelectual.

Uma boa parte das cantigas de amigo remete a uma vida campesina. Geralmente a protagonista é uma moça, que se encontra com o namorado (“o amigo”) às escondidas, que vai ao rio lavar roupas, ou os cabelos e que fala com a natureza pedindo o retorno do amigo ausente: pinheiros, fontes, ondas do mar, são sempre evocados na esperança de rever o amado.

 

Alguns estudiosos, dizem que a cantiga feminina nasceu em um núcleo rural, pois, nestas comunidades mais agrárias a mulher ocupa uma posição mais relevante socialmente. Por ter esta origem local e ter sido adaptada por poetas de épocas e meios sociais dos mais variados, estas composições convergeram-se em poesia folclórica, ou seja, que retratam um estilo de vida muito primitivo de um povo, ou grupo social. Assim, encontramos nas cantigas muitos elementos simbólicos, principalmente relacionados com a paisagem, que assume também o papel de personagem e também temos a presença de regionalismos arcaicos, como traços religiosos das cantigas de romaria.

 

Segundo António J. Saraiva, na História da Literatura Portuguesa, é usual “classificar as cantigas de amigo, segundo as seus temas, em bailadas ou bailias, cantigas de romaria, marinhas ou barcarolas, a que, não menos justificadamente, se poderiam acrescentar cantigas de fonte, de cenas venatórias, de amiga e mãe, de amiga e amigas (às vezes designadas como irmanas), de despedida, etc.”(p. 64)

 

Portanto, temos acima definidos os temas mais comuns destas poesias. Além disto, encontramos uma excelente caracterização da mulher, com nuances de personalidade e sentimentos, o que nos leva à crer que o poeta-compositor possuía uma grande experiência da vida sentimental de sua época. Como vimos, as cantigas de amigo não são simples no sentido de superficialidade, nem ingênuas. Elas traduzem conflitantes relações amorosas e sociais, ao contrário do que muitos livros de literatura para o ensino médio sugerem.

 

Na próxima coluna falaremos de outra parte fundamental no estudo das cantigas de amigo, que diz respeito à forma e ao paralelismo.

 

A fremosinha.